A tecnologia da Primeira Guerra Mundial que está ajudando a Ucrânia a enganar a Rússia

By David Monteiro
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Está cada vez mais difícil para a Ucrânia esconder dos olhos da Rússia o enorme número de soldados que o país está reunindo para sua grande ofensiva contra os invasores. Por isso teve que encontrar novas estratégias para confundir o inimigo.

Em uma trincheira na frente oriental da guerra que já dura um ano, uma equipe de soldados ucranianos sabe que a Rússia não está apenas tentando rastreá-los com drones, mas também usando outras tecnologias eletrônicas para tentar localizar sua posição.

Os homens da 28ª Brigada Ucraniana poderão ter acesso à tecnologia do século 21: satélites, smartphones e tablets, para ajudar na comunicação e identificação de alvos. Mas, para se esconder, eles também estão usando uma máquina do passado distante.

Uma relíquia que não seria estranha em uma trincheira durante a Primeira Guerra Mundial: um velho telefone a manivela.

Combatendo o poderio tecnológico da Rússia
Vlad e seus soldados pegam o telefone a manivela toda vez que vão disparar um morteiro. Seu timbre surdo produz um som de outra época. Para fazer chamadas, eles precisam girar uma manivela. É como uma cena de um filme em preto e branco.

Vlad agarra os cabos que se estendem para outras trincheiras próximas. Ele diz que esse é o meio de comunicação mais seguro e que “é impossível interceptar”.

Ele diz que os sistemas eletrônicos da Rússia podem detectar e interceptar telefones celulares e rádios, mas, apontando para seu antigo telefone de campo, Vlad diz confiar no objeto bem mais antigo: “Esta tecnologia é muito antiga, mas funciona muito bem”.

As forças convencionais da Rússia podem ter se saído mal e sofrido pesadas baixas até agora, mas isso não quer dizer que o Kremlin não tenha à disposição alguns dos sistemas de guerra mais avançados do mundo: meios invisíveis de rastrear um inimigo e interceptar ou bloquear comunicações.

Com esses sistemas em posições defensivas fixas, os avanços das forças da Ucrânia serão mais perigosos e difíceis: os radares russos do Zoopark podem localizar o fogo de artilharia, os veículos Zhitel detectam, rastreiam e bloqueiam as frequências de rádio e tanques Borisoglebsk-2 pode interromper as comunicações por satélite, como o GPS.

A era dos drones

O uso de guerra eletrônica pela Rússia também está dificultando o uso de drones pelos militares ucranianos, uma ferramenta essencial para obter uma visão aérea do campo de batalha.

Em outro ponto na frente oriental, Oleksii e sua unidade de inteligência de drones da 59ª Brigada usam a cobertura de um prédio bombardeado para pilotar seu pequeno drone comercial chinês para identificar as posições russas.

Nos estágios iniciais da guerra, a Ucrânia parecia ser mais adepta do uso de drones. Mas Oleksii diz que agora “o céu está cheio” com todos os tipos de drones. Ele diz que os russos também estão usando os mesmos modelos, mas têm mais deles. Embora ele acredite que eles “se importam menos”.

Oleksii diz que já perdeu cinco pequenos drones de fabricação chinesa e que sua brigada “pode perder de três a quatro drones por dia”. Ele diz que o inimigo tem acesso a estações de guerra eletrônica e armas anti-drone que “podem transmitir interferências e interromper as comunicações” para desativar seus drones.

“Mas em mãos capazes”, acrescenta ele, “um pequeno drone comercial como um Mavic pode durar de duas a três semanas”.

A equipe tenta evitar a detecção usando criptografia e modificando a geolocalização de seus drones. Aquele que está sobrevoando as trincheiras russas usa uma VPN na Austrália, o que faz parecer que está sobrevoando aquele país. Mas ele diz que o disfarce nem sempre funciona.

Em desvantagem
Por outro lado, os esforços da Ucrânia para abater drones russos podem se revelar mais rudimentares, como a BBC News testemunhou em outra posição da batalha.

Soldados ucranianos apontam para um drone voando alto à distância. É um Orlan, um drone maior de fabricação russa que pode realizar vigilância ou interceptar comunicações. Desta vez, ele está inspecionando as posições defensivas ucranianas próximas para direcionar o fogo de artilharia.

Era possível ouvir o assobio dos projéteis antes de ver o impacto e a fumaça subindo à distância.

A resposta dos soldados ucranianos próximos é abrir fogo para o céu com seus rifles automáticos. Mas o drone russo voa muito alto. Nesse caso, seu fogo é inútil.

Em um centro de comando próximo, Bohdan, da 10ª Brigada da Ucrânia, expressa sua frustração por não poder fazer mais. Ele diz que os drones russos voam “todos os dias, todas as horas, todos os segundos. Eles têm recursos para isso. Fazemos guerra contra eles, mas não tanto quanto gostaríamos”.

No entanto, a tela grande atrás dele mostra que a Ucrânia ainda pode fazer o mesmo, embora agora deva considerar seus drones como itens descartáveis da guerra.

Um vídeo de um drone ucraniano pairava sobre as trincheiras próximas. A Rússia pode ter uma vantagem na guerra eletrônica e mais drones, representando um desafio para o próximo ataque da Ucrânia.

Mas a Rússia ainda não conseguiu obter o controle do céu ou derrotar a resistência e engenhosidade da Ucrânia.

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