Quem é Fernando Passos, ex-CFO do IRB processado pela SEC

By David Monteiro
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Os sustos dos investidores com o IRB Brasil Resseguros (IRBR3) não se limitaram às fraudes descobertas nos balanços financeiros da empresa há cerca de dois anos. Houve também a divulgação de informação falsa, que mexeu com as ações da companhia naquela época.

Em 27 de fevereiro de 2020, teria circulado entre os acionistas do IRB um documento sobre a Berkshire Hathaway ter supostamente triplicado a participação no ressegurador. A holding americana é gerida pelo famoso investidor Warren Buffett. A informação vazou e os papéis IRBR3 saltaram 6,7% naquele pregão.

Porém, em 3 de março, a informação foi desmentida. A Berkshire afirmou que nunca havia sido acionista do IRB e que não tinha intenção de ser. O pregão seguinte foi de sangria: os papéis caíram 31,98% – a maior baixa diária da história da IRBR3.

É nesse momento em que entra a figura de Fernando Passos, então vice-presidente executivo de finanças (CFO) e relações com investidores do IRB. A SEC, comissão de valores mobiliários americana, processou o ex-CFO após queixas de investidores por suspeita de que ele teria inventado a história envolvendo Buffett.

“A denúncia alega ainda que Passos criou e compartilhou com outros uma lista de acionistas falso que mostrou que Berkshire havia feito compras substanciais de ações da IRB. Passos também supostamente comunicou as informações falsas a analistas e investidores durante reuniões no Reino Unido e nos EUA”, explicou a SEC em comunicado.

A história envolvendo a Berkshire aconteceu logo após os papéis caíram em função dos relatórios divulgados pela Squadra Investimentos. A gestora apontou inconsistências nos balanços do IRB e declarou que estava short nas ações, puxando o primeiro fio do novelo a respeito das fraudes na empresa.

A CVM também abriu inquéritos para apurar as irregularidades, que culminaram em um processo sancionador contra o especialista financeiro por tentativa de manipular os preços do mercado.

Passos ocupava desde 2014 o cargo de vice-presidente financeiro e de relações com investidores da companhia. Ele renunciou em março de 2020, após virem à tona o caso Berkshire Hathaway e as descobertas de inconsistências contábeis nos números da companhia. O então presidente-executivo do IRB, José Carlos Cardoso, também saiu da empresa.

Ainda em março de 2020, o próprio ressegurador iniciou uma investigação independente contra sua antiga diretoria. Além da informação fraudulenta sobre a participação de Buffett, a companhia buscava elucidar outras irregularidades praticadas pelos ex-administradores.

A conclusão das investigações, conduzidas pela KPMG Assessores Ltda. e Felsberg Advogados, veio três meses depois. Foram identificados quase R$ 60 milhões pagos em bônus indevidos a integrantes da antiga diretoria, fora operações de recompra de ações que ultrapassavam as quantidades autorizadas pelo conselho de administração em 2,85 milhões de papéis.

“A Companhia apresentou as conclusões de todas as apurações acima indicadas ao Ministério Público Federal, CVM e Susep. A Companhia irá colaborar com as investigações que vierem a ser conduzidas pelas autoridades competentes […] Do mesmo modo, a Companhia tomará as devidas providências legais a fim de se ressarcir de todos os prejuízos que lhe foram causados por condutas irregulares cometidas pelos indivíduos envolvidos”, afirma o IRB em junho de 2020.

Apesar das investigações, no final de 2020 o ex-CFO do IRB criou um banco digital, o ‘Cactvs’ – fintech voltada para microempreendedores, que já conta com 100 mil clientes e 800 colaboradores. Mesmo depois dos escândalos, o executivo ganhou o prêmio de melhor diretor financeiro de instituições financeiras não bancárias, em junho de 2020, pela Institucional Investor. As informações são do Estadão.

Acionistas tentam ressarcimento
Desde janeiro de 2020 até o fechamento de segunda-feira (18), os papéis IRBR3 perderam 91,3% do valor, passando de R$ 35,44 para os atuais R$ 3,07. Acionistas que ficaram no prejuízo, representados pelo Instituto Ibero-Americano da Empresa (IE), entraram com processo em câmara de arbitragem para conseguir ressarcimento dos prejuízos.

O processo ocorre em sigilo, o que prejudica o seu andamento, segundo o IE. “A quebra da confidencialidade seria vital para que os acionistas lesados possam ter acesso amplo e livre aos autos do procedimento nos quais são partes e para que o próprio mercado possa conhecer dos riscos, do impacto e da modelagem das decisões dos árbitros”, afirma o instituto, em comunicado.

O IRB disse que não comentará o caso. Passos não respondeu o contato da reportagem até o fechamento do texto.

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